Direção: Ki-hyeong Park Roteiro: Ki-hyeong Park
Produção: Sungkyu Kang, Ki Hyung Park, Yeong Shik Yu Edição: Seong Weon Ham Fotografia: Hyeon-je Oh
Música: Man Sik Shoi
Elenco: Hye Jin Shim (Mi Sook Choi), Jin Geun Kim (Do Il Kim), Oh Bin Mun (Jin Seong Kim), Na Yoon Jeong (Min Ji)
Para a maioria dos fãs de Cinema Fantástico já é uma realidade visível o fato de que as produções mais interessantes e diversificadas desse Gênero foram produzidas na Ásia. Para o grande público essa onda de filmes de horror orientais se popularizou a partir de O Chamado, mais precisamente de sua adaptação norte-americana. O Japão passou a ser a fonte de histórias bizarras, singulares e aterradoras com diversos níveis de violência, misturando temas sobrenaturais com sangrentas histórias sobre gangsters e jovens ultra violentos. Aos poucos outros países asiáticos despontaram no Ocidente como grandes fornecedores de histórias fantásticas que fogem totalmente dos moldes do Cinema de Horror Norte-Americano, flertando mais com o Horror Europeu de Mestres como Dario Argento e Lucio Fulci, como por exemplo em Evil Dead Trap 1, que tem citações explícitas de Suspiria. Essa produção é muito longa, muito variada, e já vem de décadas, com clássicos absolutos como Onibaba, de Kaneto Shindo. Produções da China e mais recentemente da Tailândia despontam como o excelente Shutter aka Espíritos - A Morte Está ao Seu Lado. Mas um país asiático surge com uma produção volumosa de grandes títulos: a península da Coréia do Sul.
Nos últimos anos surgem filmes de muita qualidade e originalidade produzidos na Coréia do Sul, um país sem tradição de bons filmes que em menos de dez anos revelou grandes diretores e filmes como Kim Ki Duk, com o chocante A Ilha, o slasher The Record, o extraordinário A Tale of Two Sisters aka Medo, a Trilogia da Vingança de Park Chan Wook, o perturbador The Uninvited e o recente e obrigatório The Host. Nesse conjunto de filmes surge em 2003 uma curiosa produção intitulada Acácia, escrita e dirigida por Ki Hyung Park. A trama central coloca em cena elementos de um drama Familiar moderno, carregado de sensibilidade e atmosfera de crescente expectativa que lentamente irá conduzir o filme para uma ruptura que irá transfigura-lo num perturbador filme de horror. As primeiras imagens da abertura mostram imagens impressionistas que irão se refletir nos quadros feito por um sensível menino que é escolhido para adoção por um casal que não pode ter filhos. O menino tem uma grande fixação por pintar árvores, e, na casa de seus pais adotivos, no quintal, existe uma árvore de Acácia, pela qual o pequenino se sente atraído, fascinado. Essa questão do elemento árvore no centro da trama me lembrou muito o filme de Kiyoshi Kurosawa: Charisma. Kiyoshi aliás parece ser a grande influência desse diretor sul-coreano. Assim como o colega japonês, ele constrói suas atmosferas permeadas de cargas sobrenaturais, encenando suas histórias em ambientes realistas e cotidianos de maneira muito original e atingindo ótimos resultados.
Mesmo com o fascínio do menino com relação a árvore de Acácia, o cotidiano da família é normal e harmonioso. O ponto de tensão que começa a mudar tudo está na figura da avó que não aceita o menino adotivo e insiste que a filha tente ter um filho biológico. Então a mãe adotiva do menino acaba engravidando. Uma mistura de ciúmes e medo envolve o garoto que desmancha um tapete feito pela mãe e provoca um pequeno incêndio. Até esse momento tudo parece a encenação de um drama sobre aceitação e rejeição dentro de um ambiente familiar. Claro que as coisas começam a mudar, e para pior, senão esse filme não estaria sendo comentado por aqui no Boca do Inferno. Em uma noite de tempestade, uma violenta discussão entre o menino e sua mãe adotiva tem um clímax perturbador quando o menino afirma que a árvore de Acácia é a reencarnação de sua mãe biológica. Em meio a tempestade, o menino desaparece. O mistério sobre o sumiço do garoto é o que move a história a partir desse momento de ruptura. Os pesadelos do pai com imagens de fetos ensangüentados passam a perturbá-lo com mais intensidade. O fato dessa personagem ser um médico obstetra colabora para criar em torno dele uma figura aos poucos assustadora. Em torno da árvore que floresce mortes passam a ocorrer testemunhadas por uma misteriosa amiguinha do menino desaparecido. Sim, como todo filme de horror asiático temos aqui mais uma menininha fantasmagórica que se diz vampira, fato que provoca horror no avô, que, ao tocar o coração da menina, parece não sentir pulsação alguma, comprovando que realmente ela poderia ser uma morta-viva, ao menos em seu breve momento de pavor.
Aos poucos os terríveis mistérios da trama vão se revelando para o espectador que está preso nessa trama perturbadora de belas imagens e com um ótimo trabalho de edição, que lentamente desvenda os horrores em torno do menino e da bela árvore de Acácia, elemento que parece onipresente do início ao fim do filme. As imagens uterinas que surgem são incríveis e carregadas de simbolismos metafísicos. A seqüência do encontro do casal numa noite de tempestade, dentro da casa com fios vermelhos forrando a parede, é de uma composição primorosa: com uma tesoura, ela caminha em direção ao marido, numa janela ao fundo vemos a luz de um relâmpago. Esse tipo de composição sofisticada nos remete aos clássicos da Fase de Ouro do Horror Cinematográfico Italiano. A cena final de Acácia me deixou sem ar por alguns segundos...coisa de gênio mesmo. Muito subestimado esse filme merece uma revisão e um melhor reconhecimento do público. Ele foge muito do lugar comum de produções similares. A sensibilidade do diretor ao criar esse filme é muito intensa, muito forte, pontuando filme com grandes momentos. Sem a pirotecnia Gore de outras produções asiáticas, Acácia é um filme com uma boa história, um roteiro muito bem trabalhado, com uma série de momentos climáticos em seu desfecho de estilizada violência.
Marcelo Carrard
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