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    2011-01-17

    Do Começo ao Fim



    Julieta (Julia Lemmertz) tem dois filhos com uma diferença de seis anos de idade, Francisco (Lucas Cotrim) e Thomás (Gabriel Kaufmann), e com maridos diferentes: Pedro (Jean-Pierre Noher) e Alexandre (Fabio Assunção). Os dois irmãos se tornam grandes amigos desde pequenos e, quando adultos, transformam esta amizade em algo mais profundo e polêmico.



    Antes de tudo, é preciso considerar que, apesar de “Do Começo ao Fim” tratar de temas polêmicos como o incesto ou a homossexualidade, a obra é uma grande história de amor, daquelas que, acima de retratar a realidade, buscam inserir no espectador a esperança de que o mundo real pode ser complicado, mas ainda há como tudo dar certo.


    Diante disso, são injustas as críticas que colocam o filme como distante da realidade de dois temas tão espinhosos. O longa, dirigido por Aluízio Abranches (de “Um Copo de Cólera”), conta a história de Thomas e Francisco, dois meio-irmãos (filhos apenas da mesma mãe) que, na fase adulta, assumem uma relacionamento amoroso. Abranches optou por fugir do clichê na hora de abordar tais assuntos. Isto pois, na maioria das obras que tratam de tabus, o que se vê é um mar de lágrimas e situações que só reforçam que aquela “diferença da sociedade” não é bem vista. Em “Do Começo ao Fim”, o tratamento é dado quase como em tom de conselho: “as adversidades existem, mas há como dar certo”.


    Na direção de Abranches, o choro é substituído por um amor incondicional. Amor dos pais para os filhos e, principalmente, de Thomas para Francisco (e vice-versa). Se infância (quando os personagens são vividos por Gabriel Kaufmann e Leandro Cotrim) vemos os dois demonstram uma imensa paixão e admiração um pelo outro, na fase adulta (quando, de maneira elogiável, Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos assumem os papéis) vemos que tudo o que construíram na infância nada mais foi que uma grande junção de amor, afeto, cumplicidade e necessidade do outro


    Para alguns, o filme padece da ausência de conflitos. “Como pode uma família aceitar tão bem a relação dos dois? Como podem os dois irmãos não se questionarem quanto ao que sentem um pelo outro?” Entretanto, são nítidas as sutilezas que Abranches adota que fazem tais impressões caírem por terra. Na infância, em vários momentos vemos a dor e a angústia dos pais (vividos por Júlia Lemmertz e Fábio Assunção e Jan Pierre Noher) ao perceberem tamanha proximidade entre os filhos. Se tais sensações não são mostradas como alguns gostariam, está ali, nos gestos, nos olhares, na tensão presente na feição de cada um. Mas o maior conflito existente no filme está mesmo no “embate” entre a projeção e o espectador.


    Ver uma relação tão feliz e entendida até mesmo pelos pais dos envolvidos certamente leva o público a se perguntar os motivos de tamanha naturalidade naquela família. Diante disso, cada um sai da projeção se questionando sobre qual seria sua reação ao se deparar com um casal de pessoas que, como a grande maioria das pessoas, apenas quer ser feliz um ao lado do outro. “Mas são irmãos”, dirão alguns. “E daí?”, parece responder a telona. E está justamente em mostrar como uma situação tabu pode ser “normal” é o grande mérito da película.
    Crítica por: Rodrigo Soares


    Amor de irmão

    Aluízio Abranches revela curiosidades sobre Do Começo ao Fim, um dos filmes mais aguardados do ano

    Antes mesmo de chegar ao cinema, “Do Começo ao Fim” está dando o que falar. A história de amor entre dois irmãos escrita e dirigida por Aluízio Abranches gerou tanta curiosidade, que o vídeo sobre o filme já foi visto milhares de vezes na Internet. Apesar de abordar temas como homossexualismo e incesto, o diretor garante que o filme trata os assuntos com muita delicadeza e sensibilidade.



    Nos papéis principais, estão os jovens Rafael Cardoso e João Gabriel Vasconcellos, que interpretam Thomás e Francisco, respectivamente. Julia Lemmertz dá vida á Julieta, mãe dos meninos, primeira a perceber que o carinho entre os irmãos é mais profundo do que amor fraterno. Estão no elenco ainda Fábio Assunção, Louise Cardoso, Jean Pierre Noher e os meninos Gabriel Kaufmman e Lucas Cotim.



    Nesta entrevista, Aluízio Abranches revela o que o inspirou a escrever este filme, fala sobre a reação do público que já assistiu e comenta o projeto cinematográfico que está produzindo com Christiane Torloni.



    O que te inspirou a escrever a história deste filme?

    Eu já queria tocar nestes assuntos desde que li “Os Maias” quando adolescente. O livro fala de uma relação entre irmãos. O “Lavoura Arcaica” também tem uma temática parecida. Eu sempre gostei muito destes dois livros, mas preferi inventar a minha história a não fazer um filme sobre uma destas obras. Eu queria contar essa história da minha maneira, então eu fiz quase tudo do jeito que eu quis.



    Por que você resolveu tratar de temas como homossexualismo e incesto em seu terceiro longa?

    Esses temas só fazem parte do contexto. O filme fala sobre uma história de amor, eu queria falar sobre esse sentimento. Nas pré-estreias, as pessoas vinham me dizer que até esqueciam que existia homossexualidade e incesto no filme porque tudo é discutido com muita delicadeza e naturalidade. Acho importante discutir esses temas. Homossexualismo incomoda a muita gente, mas não pode ser considerado um tabu nos dias de hoje. Não tem nenhum julgamento moral no filme, não levantamos nenhuma bandeira. A partir do momento em que a família dos personagens aceitou o relacionamento, quem são os outros para julgá-los? Eu queria discutir uma possibilidade de amor, seja ela ente dois irmãos, entre homem e mulher ou entre mulheres.



    O que você quis passar para o público com este filme?

    Eu quis contar uma história de amor. Se isso ajudar aos homossexuais, ótimo, mas não fiz pensando nisso. Tem muita mãe adorando o filme, dizendo que está leve, delicado. Muita mulher inveja a relação monogâmica, fiel e apaixonada que os personagens têm. É interessante mostrar uma possibilidade de relacionamento homossexual feliz e trazer para as telas este amor romântico. As pessoas estão voltando para o romance depois da liberação sexual dos anos 70. É bonito ver este amor de verdade, sem ter que provar nada para ninguém. Acho que consegui fazer um recorte novo destes assuntos. Fiz uma pesquisa muito grande na psicanálise e na filosofia e não encontrei nada sobre amor entre dois irmãos.



    Qual é o papel da mãe dos meninos na construção do relacionamento deles?


    Quem faz a Julieta é a Julia Lemmertz, uma médica e mãe amorosa. Ela percebe que a relação entre os meninos é diferente e os pais vão percebendo que aquilo é mais do que uma simples curiosidade. Ela é uma mãe à frente de seu tempo, mas não deixa de se preocupar porque não sabe como o mundo vai encarar esse amor. Ela ama os filhos incondicionalmente, então ela reage bem, aceita numa boa.



    Como foi feita a escolha do elenco?

    Essa é a terceira vez que eu trabalho com a Julia Lemmertz. Além de ela ser uma excelente atriz, temos uma ligação muito boa, tanto profissionalmente quanto na vida pessoal. Somos muito amigos. O João Gabriel veio da CAL, pedi para um diretor amigo selecionar e ele foi muito bem nos testes. Já o Rafael foi indicado pelo Jairo Bauer. Eu testei outros meninos, mas quando o vi percebi que era perfeito para o papel.



    Era um pré-requisito que os meninos fossem bonitos?

    Não era uma exigência, eu queria um certo brilho, mas não posso negar que eles são lindos. No dia do teste do João Gabriel eu não percebi o tamanho da beleza deste rapaz. Eles são ótimos atores e o filme ficou muito bonito, muito delicado.



    O que você privilegiou na direção deste filme?

    Eu chamei Ueli Steiger, um suíço que estudou cinema comigo e tornou-se diretor de fotografia responsável por megaproduções como ‘Godzilla’, ‘O Depois de Amanhã’ e ‘O Patriota’. Inclusive, ele deixou de fazer ‘2012’ para fazer ‘Do Começo ao Fim’. Ele tem um olhar diferente que fez toda a diferença. Ele ressaltou a suavidade e trouxe um clima harmonioso para o filme. O editor, Fábio Lima, também contribui muito para o resultado deste filme. Ele é jovem, sem vícios.
    O trailer do filme foi visto milhares de vezes na Internet. Você imaginava que o filme ia tomar esta proporção?

    Não, está sendo uma surpresa muito boa. As pré-estreias pagas lotaram. Eu não achei que fosse criar polêmica, mas agora acho que gerou mais pela questão romântica entre os personagens do filme do que pelo homossexualismo ou pelo incesto em si.



    Você já está trabalhando em um novo filme?

    Sim, estou com dois projetos. Um é uma comédia e outro é um trabalho inspirado na “Divina Comédia", junto com a Christiane Torloni.
     Veja aqui uma cena que ficou fora do filme
    Erros durante a filmagem aqui
    E aqui o trailer  do filme
    Veja aqui entrevista com os atores




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