Um menino de apenas 9 anos e de família humilde perde os sapatos de sua irmã, forçando-o a treinar para ganhar o prêmio de uma corrida, que irá permitir que ele compre um novo par de sapatos. Recebeu uma indicação ao Oscar.
Ali (Amir Farrokh Hashemian) é um menino de 9 anos proveniente de uma família humilde e que vive com seus pais e sua irmã, Zahra (Bahare Seddiqi). Um dia ele perde o único par de sapatos da irmã e, tentando evitar a bronca dos pais, passa a dividir seu próprio par de sapatos com ela, com ambos revezando-o. Enquanto isso, Ali treina para obter uma boa colocação em uma corrida que será realizada, pois precisa da quantia dada como prêmio para comprar um novo par de sapatos para a irmã.
A primeira lembrança que vem é o neo-realismo italiano, Ladrões de Bicicleta - a vida no limite da pobreza. A história é à la início do neo-realismo, de fato: um fiapo de história em cima de um símbolo da vida no limite da pobreza. No caso, é o único par de sapatos da garota de uns sete anos que, na primeira seqüência, o irmão mais velho, de uns nove, perde. A partir daí, os dois passam a ter que se revezar no uso do tênis velho dele para ir à escola.
Na história o diretor consegue
a) envolver completamente o espectador, na mais pura base emocional, com o drama desses dois pequenos personagens;
e b) fazer um panfleto forte, claríssimo, e ao mesmo tempo suave, sobre o absurdo que é a vida em uma sociedade brutalmente desigual e injusta.
É profundamente humanista, como o neo-realismo italiano. Mas não é um filme “pobre”; nada de estética da falta de recursos. Minimalista na pequena história, o filme é de uma riqueza poderosa de imagens. O diretor tem pleno domínio da técnica narrativa. As tomadas de sapatos, repetidas, enquanto a menininha está na escola, são esplendorosas; o efeito se repete nas diversas tomadas de campainhas de interfones que o garoto e o seu pai tocam no bairro riquíssimo, onde ele vai em busca de trabalho extra como jardineiro; as próprias tomadas do bairro pobre e do bairro rico são perfeitas, brilhantes.
Os dois pequenos atores estão extraordinários; todos os atores estão bem - por que será que só no Brasil os atores são tão ruins?
O filme foi indicado para o Oscar de Filme Estrangeiro em 1999, concorrendo com o vencedor A Vida é Bela e Central do Brasil - por coincidência, ou não, três filmes que têm crianças como personagens centrais.
Sob um falso manto de fábula infantil, aliado à força artística do chamado neo-realismo — ou Novo Cinema — do Irã, Filhos do Paraíso carrega em si todos os elementos que suprem as expectativas do público mais exigente. Uma das características é o uso da criança numa trama carregada de sentimentalismo, um painel social difícil de ser esquecido. Nomes consagrados como Abbas Kiarostami ou Jafar Panahi usaram e abusaram dessa fórmula em filmes como Onde Fica a Casa de Meu Amigo? e O Balão Branco, fisgando definitivamente o interesse do mundo para o cinema da terra dos aiatolás. O diretor Majid Majidi destaca-se como aquele que melhor soube aproveitar os parcos recursos de que ele e seus colegas dispõem, a fim de provocar a emoção de quem os assiste. A Cor do Paraíso e Baran, respectivamente de 1999 e 2001, são obras comoventes e poéticas, sem dúvida, mas o talento supremo e a relevância de Majidi já haviam sido demonstrados em 1997 com o lançamento de Filhos do Paraíso.
O filme conta a história de um menino chamado Ali que, no caminho para casa, perde os sapatos de Zahra, sua irmã caçula. Os dois viram cúmplices de um segredo, decidem não contar aos pais sobre o ocorrido, uma vez que a família não tem dinheiro para comprar um novo par de sapatos. A garota aceita a proposta do irmão: de manhã, ela vai à escola com os tênis de Ali e, na volta, os devolve. O menino, que estuda à tarde, acaba se atrasando diariamente para recuperar os calçados. O consolo parece nascer quando uma corrida é organizada pelas escolas da região, e o 3º prêmio é justamente um par de tênis. Ali pede para se inscrever e, com o otimismo típico das crianças, garante a Zahra que irá obter o terceiro lugar da prova.
Com personagens humanos e simplórios, Majidi realiza um trabalho que manipula as emoções do público sem grandes obstáculos. Os atores mirins Mir Farrokh Hashemian e Bahare Seddiqi estão sempre prestes a nos comover com seus imensos olhos pretos, transbordantes de lágrimas. O que faz de Filhos do Paraíso um trabalho excepcional, longe de ser um melodrama barato, é o modo como alerta sobre as desigualdades sociais através de objetos e atitudes de aparência singela. Um par de sapatos ganha significado monumental para os dois irmãos, mas existe um real motivo para isso — e nós o conhecemos muito bem. A pobreza, claro, tende a exaltar coisas que para muita gente soam insignificantes. Em determinado ponto da história, Ali presenteia Zahra com um lápis e uma caneta como forma de agradecimento pela compreensão, e a menina fica felicíssima, como se tivesse ganhado a coisa mais maravilhosa do planeta (num outro país, é provável que a mesma reação fosse alcançada tão-somente em troca de um celular último modelo ou de uma blusa de grife). A inquietação dos filhos diante dos problemas financeiros dos pais é natural, e essa temática ganha dimensões metafísicas no cinema das nações soit disant subdesenvolvidas. Mesmo após contemplar um belo par de tênis num comercial de tevê, as crianças se calam, sem fazer exigências.
Uma das seqüências mais deslumbrantes é quando Ali visita um bairro chique com o pai, em busca de serviço ocasional de jardineiro. Contrastando com os labirintos acinzentados onde vivem os protagonistas, estão belas mansões de arquitetura palacial, ruas arborizadas, calçadas impecáveis, portões cheios de detalhes. O interfone é a metáfora ideal para a luta de classes: o pai de Ali aperta a campainha, comunica-se com dificuldade pelo aparelho, o que evidencia sua total falta de intimidade com a tecnologia, e é quase sempre dispensado com indelicadeza. Os ricos permanecem escondidos, confinados em seus oásis, ficam à distância, descartam os trabalhadores sem nem ao menos vê-los. Tudo muito frio e austero, apesar do sol dourado.
A postura crítica de Majidi arrebata um a um todos os clichês do cinema iraniano para desenvolvê-los de forma isolada em cada lance, nunca tornando o roteiro confuso, sem intercalar tramas paralelas, sem atulhar a narração com personagens desnecessários, etc. Ele se propõe apenas a relatar um fato e o faz brilhantemente. Os personagens são esmiuçados na medida certa. Tanto os adultos quanto as crianças estão em estado quase permanente de estresse devido à falta de recursos materiais e ao acúmulo de tarefas. O fim prematuro da infância é retratado não como uma postura de rigidez, porém como um problema hereditário, corriqueiro entre as casas menos favorecidas. O país não importa (isso acontece no Irã, na Índia, no México, no Brasil..., o que acentua o cunho universal da fita). “Você já não é mais uma criança, tem 9 anos”, diz o pai ao garoto. “Na sua idade, eu já ajudava meus pais”, completa ele. Uma dura realidade que Majidi transmite ao público num filme ausente de moralidades fáceis ou descartáveis; sua câmera filma a relação dos dois irmãos com um grau de ternura raramente obtido.
Um filme que deveria ser passado nos colégios. Onde adolescentes estão sempre exigindo de si, e também dos colegas, a troca constante por calçados, roupas, acessórios caros, de marcas da moda. Chegando muita das vezes a discriminar a quem não segue esses modismo. Pois há quem não os siga. Quer seja por não terem dinheiro, ou por não ver nenhuma graça nisso.
Também deveria ser vistos por crianças. Para perceberem quais são os verdadeiros valores. Principalmente, numa cena com torrões de açúcar. Onde a menininha levando chá para o pai, ele lhe pede que lhe traga o açucareiro. Causando espanto a ela, pois ele estava quebrando um bloco de açúcar em pequenos torrões. Mesmo com toda a dureza, com dívidas acumuladas, aquele pai passou a filha uma lição linda. De que aquilo fora confiado a ele. Que não pertencia a eles. Lindo! Alguns políticos também poderia ver essa parte, pelo menos.
O filme traz um curto período na vida de dois irmãos: Ali, o mais velho com 9 anos de idade, e a Zahra, a irmã do meio. E um único par de calçado.
Um pouco de sua família: O pai tem como emprego, servir chá numa Mesquita. A mãe, lava tapetes para fora. O dinheiro mal dá para por as contas em dia. Até o pequeno cômodo onde moram, o aluguel está em atraso.
Ali, por conta da mãe está adoentada, se ver forçado a não ir brincar mais, pois precisa ajudar em casa. E parece que é um bom jogador, pois é bastante assediado por um coleguinha. Numa outra cena, vai vivenciar um pouquinho de quase um outro mundo. Num bairro das lindas mansões. Onde conhecerá um menininho que por ter dinheiro demais, não tem com quem brincar. A cena com o elefantinho de pelúcia, fiquei com lágrimas nos olhos.
Ali na volta para casa, onde tinha levado o único sapatinho de Zahra para um conserto, o perde. Ao contar a irmã começa todo o drama. A cumplicidade desses dois é de, hora nos fazer sorrir, hora, nos levar a ficar em lágrimas. Por não contar aos pais o que houve, a cena onde Zahra quer saber como irá na escola no dia seguinte… De tão simples, chegar a ser sensacional! E nosso sorriso brota. Ela nos conquista de vez. Olhem que essa é só o comecinho. Zahra ainda nos levará a outros encantos mais.
A solução encontrada… nos leva a uma torcida silenciosa por eles… é desgastante para eles. São crianças, e já tendo o peso de não endividar mais os pais. Zahra, mesmo assim, não conta aos pais. Por amor, também ao irmão. Ali, por sua vez, mais do que o medo de uma surra, sente que perderia de vez de receber do pai um carinho. Mais até, ele queria que o pai sentisse orgulho dele. A cena onde o pai finalmente sente orgulho, sente respeito por ele, é linda!
Zahra até consegue achar os seus sapatinhos. Ela e Ali vão até lá buscar. Mas… Uau! Esses dois são demais!! E tem uma posterior, dela com a nova e então ex-dona dos sapatinhos cor de rosa… Bem, ao mesmo tempo que sentimos um nó na garganta, somos levado a sorrir com Zahra.
Eis que surge uma chance de conseguirem um outro calçado. Por uma Corrida com meninos de vários colégios. Cujo prêmio para o 3º lugar é um par de tênis. Ali então promete a Zahra que irá conseguir esse prêmio e o dará ela. A corrida é emocionante! Mas…
Será difícil reter as lágrimas no final. Uau! Que final! Bravo, Ali e Zahra! Amei os dois! Que belíssima lição de vida ambos nos brindaram! Parabéns também ao Diretor! Mais um a mostrar que uma bela história não precisa de ter grandes efeitos especiais. A primeira cena já nos deixa uma bela mensagem. Um filme inesquecível! De ver e rever!
Ficha Técnica
Título Original: Bacheha-Ye aseman
Gênero: Drama
Tempo de Duração: 88 minutos
Ano de Lançamento (Irã): 1997
Estúdio: The Institute for the Intellectual Development of Children & Young Adults
Distribuição: Buena Vista International / Miramax Films
Direção: Majid Majidi
Roteiro: Majid Majidi
Produção: Amir Esfandiari e Mohammad Esfandiari
Direção de Fotografia: Parviz Malekzaade
Edição: Hassan Hassandust
Elenco
Mohammad Amir Naji (Pai de Ali)
Amir Farrokh Hashemian (Ali)
Bahare Seddiqi (Zahra)
Nafise Jafar-Mohammadi (Roya)
Fereshte Sarabandi (Mãe de Ali)
Kamal Mirkamiri (Assistente)
Behzad Rafi (Treinador)
Dariush Mokhtari (Professor de Ali)
Mohammad-Hassan Hosseinian (Pai de Roya)
Masume Dair (Mãe de Roya)
Kambiz Peykarnegar (Organizador da corrida)
Hasan Roohparvari (Fotógrafo da corrida)
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Estava mesmo a procura deste filme.Adorei o blog.
ResponderExcluirEstava mesmo a procura deste filme.
ResponderExcluirAdorei o blog
Este filme é simplesmente " MARAVILHOSO" Adultos e crianças certamente deveriamassití-lo! É uma lição de vida, onde valorizamos o q temos e o q deveríamos repartir. Ameeiii! É um filme que nos prende do início ao fim.
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