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    2008-12-16

    Sweet Mud Adama Meshuga'at - Exuberante Deserto 2006


    1974. Dvir (Tomer Steinhof) está prestes a completar 13 anos, quando deverá ter seu Bar Mitzvah. Ele mora em um kibutz, em Israel, juntamente com sua mãe Miri (Ronit Yudkevitz) e o irmão mais velho. Miri é frágil e mentalmente instável, o que faz com Dvir faça o melhor para ajudá-la no pouco tempo que tem para ficar ao seu lado.
    Crianças vêem o mundo de maneira descomplicada - se adultos são rodeados de cinzas, para os olhos infantis tudo é preto ou branco. A questão é: um filme de gente grande que narra uma história do ponto de vista de um garoto, como Exuberante Deserto (Adama Meshuga'at, 2006), pode ser criticado por tratar personagens e situações com maniqueísmo?
    A história se passa em um kibutz no sul de Israel. Os kibutz são o sionismo posto em prática: pequenas comunidades judaicas assentadas em território israelense pós-1948, nas terras isoladas onde prosperou uma forma de socialismo auto-sustentado. Firmar-se comunalmente num ambiente muitas vezes desértico exigia disciplina e abnegação dos habitantes dessa utopia, os kibutzim.


    Aos olhos de uma criança de 12 anos como Dvir (Tomer Steinhof), que está sendo arduamente preparada pela comunidade para o seu Bar Mitzvah, a iniciação à vida adulta, ser um kibutzim é certamente um fardo. Órfão de pai, Dvir se incomoda especialmente com a infelicidade de sua mãe, Miri (Ronit Yudkevitz). Exuberante Deserto não nos revela logo de cara, mas existe algo na vida dentro do kibutz que está deixando Miri doente de corpo e de alma. E o filho sofre com ela.
    A própria origem do filme já pressupõe um olhar comprometido sobre o seu objeto. O diretor Dror Shaul, hoje residente em Tel-Aviv, viveu os primeiros 22 dos seus 37 anos fechado em um kibutz no sul de Israel. Dvir é o seu alter-ego. Em entrevista ao site indieWire, Shaul diz que sua mãe, quando viva, o incentivou na empreitada cinematográfica. "Um dia o mundo inteiro ouvirá está história", disse ela. Evidente que Exuberante Deserto é um acerto de contas.

    E, como tal, serve bem ao propósito de filme-denúncia. O diretor relembra tudo o que de escuso havia por trás do ideário do kibutz - restrição de liberdade, intimidação, adultério, zoofilia até. A inspiradíssima cena que abre o filme, de uma mesa na central de escutas que transmite o choro dos bebês nas casas vizinhas, resume bem a situação ali, quando a comunidade é colocada acima do indivíduo.
    Mas, voltemos à questão inicial, partindo da certeza de que Exuberante Deserto teria material para ir além da mera denúncia. Acompanhar essa história pelos olhos de Dvir legitima o maniqueísmo? Não.
    Não legitima porque, no fim das contas, é um filme de adultos, para adultos, e com suas escolhas formais Shaul nos trata como se fôssemos infantes. A punição ao suíço por conta do caso dos cães é de uma causalidade grosseira: por mais que os mocinhos tentem fazer o bem, seus atos sempre serão fruto para os vilões fazerem o mal. Todas as cenas do garoto, solitário, no campo, são adocicadas ao extremo, com "aquele gostinho de infância". Mesmo o ato mais banal, como fazer uma pipa, é todo cheio de música melosa e movimentos de câmera solenes. Já aos "vilões" não se dá respiro - a avó é constrangida o tempo inteiro em close-ups, para amplificar a carranca.
    O problema de Exuberante Deserto é que no mundo real dos adultos não há vilões e mocinhos. Cada um tem suas fraquezas e as suas justiças; ninguém é perfeito, enfim, como o próprio conceito de kibutz tem falhas enormes. E o diretor israelense perde, em nome de um revide familiar, uma ótima oportunidade de olhar para o passado de seu país com outros olhos, os olhos de alguém que não se acha superior à história que escolheu contar.

    Ficha Técnica
    Título Original: Adama Meshuga'at
    Gênero: Drama

    Elenco
    Tomer Steinhof (Dvir)
    Ronit Yudkevitz (Miri)
    Shai Avivi (Avraham)
    Pini Tavger (Eyal)
    Gal Zaid (Shimshon)
    Henri Garcin (Stephan)
    Daniel Kitsis (Maya)
    Idit Tzur (Hanna)
    Joseph Korman (Zvi)
    Sharon Zuckerman (Etty)
    Rivka Neuman (Zila)
    Ami Weil (Uzi)
    Hila Ofer (Linda)
    Omer Berger (Ronen)
    Natan Sgan-Cohen (Avi)


    Premiações
    Ganhou o Grande Prêmio do Júri, no Sundance Film Festival.- Ganhou o prêmio de Melhor Filme - Voto Popular, no Festival de Miami.


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